Capítulo
9 - As Histórias de Taiguará - Nunca tinha ido lá. – menti – Estava apenas procurando a casa de uma migo meu. - As dez da noite? - Isso mesmo, dizia respeito ao meu trabalho. - Deixa eu ver se entendi. Você estava as dez horas da noite de uma sexta-feira em uma estrada deserta indo visitar um amigo que você não sabe onde mora apenas para falar sobre o trabalho? - Aham, bem, não é bem isso, quer dizer... - Escuta aqui, isso aqui é uma delegacia de polícia. Vocês da cidade grande vêm aqui pra Taiguará e se acham os reis do pedaço. É óbvio que você está escondendo algo. Saia logo daqui e saiba que ficaremos de olho em você! – dito isso, pegou o b.o. e rasgou-o na minha frente. Nada restou-me pra fazer a não ser voltar para casa. No caminho de volta passei na banca, e uma manchete do jornal de Taiguará me chamou a atenção. Dizia respeito sobre um disputa jurídica entre duas famílias sobre os bens de um imóvel abandonado. A família vencedora tinha sido, claro, os Pereira. Olhei para uma foto da família e lá estava ela, a Natasha! Aquilo me pegou totalmente de surpresa. Eu havia passado por tanta coisa diferente naqueles dias que já tinha praticamente esquecido dela. Mas agora com a descoberta de que ela estava envolvida com tudo, senti uma vontade enorme de encontra-la e descobrir o que estava acontecendo. Fui até a biblioteca da cidade e procurei por qualquer coisa que me levasse a descobrir quem realmente eram os Pereira. Em um livro muito originalmente chamado “Histórias de Taiguará”, descobri também que a região de Taiguará havia sido lar de tribos indígenas numa época anterior à colonização. Estes índios, porém, tinham sido capturados por Senhores Feudais, mas escaparam e fugiram, e não há mais registros sobre eles. Da mesma forma escravos foram trazidos, mas muitos também escaparam. Assim, as culturas africana e indígena ficaram bem enraizadas na região. Lendo outro livro, que tratava de crenças e lendas da região, tomei conhecimento da forte crendice popular do povo de Taiguará. Até então tinha convivido pouco com o povo da região, e não sabia desses costumes. Por curiosidade, peguei um livro sobre o folclore brasileiro. Achei descrições sobre diversos mitos e lendas, tais como o Boi-Tatá, o Saci-Pererê, a Matinta Perêra e outros. Mas nenhuma me chamou mais a atenção do que o relato de um senhor que tomava conta de uma igreja e que presenciou a celebração de uma missa em plena madrugada. Uma missa apresentada, diga-se de passagem, por um padre falecido a tempos, tais como eram todos os fiéis daquela igreja. Mesmo sentindo um frio na espinha, me interessei pelo livro e decidi levá-lo pra casa para estuda-lo com mais calma. Quando a bibliotecária anotou o meu nome na guia de reservas do livro, me senti um pouco envergonhado. Olha só o tipo de literatura que eu estava levando pra casa. Dessa
maneira passei o dia pesquisando e divagando, até que o estridente
tocar do telefone me chamou de volta para a realidade. A Érica
dizia que o pessoal do estúdio estava combinando de sair para ir a
uma boate numa cidade próxima. A princípio ia responder que não
dava, que estava muito cansado e coisa e tal. Mas o que eu mais
precisava naquele momento era sair um pouco e esquecer dessas coisas
estranhas que estavam me acontecendo. Então respondi que sim, que
iria com eles afinal, uma noite de descontração não iria fazer
mal a ninguém. Mas daquela vez fez...
Escrito por Felipe Duccini
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