Capítulo 4 – Além da Casa Destruída – 1ª Parte

 

- Ei, Felipe. Vamos até o parque brincar. Tá todo mundo lá. Até aquela menina que você gosta, a Amanda... ela tá lá também.

 

- Eu num gosto dela não, para de falar isso pô.

 

- Ahahaha ta vendo, tá vendo, gosta sim, foi só eu falar e você já ficou todo envergonhado... hahahha gosta dela sim.

 

- Ah é Lucas, você vai ver então, vou falar pra Aline que você tem uma foto dela dentro daquela caixa de sapato onde você guarda as suas coisas.

 

- ...

 

O Sol raiava forte naquele início de verão. Do alto dos meus 10 anos a única coisa que importava é que tinha começado o horário de verão, e isso significava mais uma hora na rua brincando com a molecada. Já naquele tempo eu não tinha melhor amigo do que Lucas, apesar de às vezes ele ficar me atormentando com alguma inverdades...

 

No nosso bairro era muito comum as crianças se encontrarem num parque meio capenga, abandonado da cidade. Não que os nossos pais gostassem, mas era melhor do que muitos outros lugares de São Paulo. Era um parque que ficava dentro, ou melhor, no começo de uma mata. Tinha alguns playgrounds velhos e um campinho que a gente improvisava como campo de futebol, e outras partes que para um bando de criançada criativa, era o lugar perfeito pra se divertir depois da escola.

 

E assim fomos, e nada mais importava naquela tarde de verão.

 

É bem verdade que naquela época eu já tinha milhões de pensamentos à cabeça, então pode parecer meio batido dizer que as coisas eram tão simples assim. É que eu simplesmente não fazia conta de que as coisas iriam mudar muito, principalmente para Lucas, naquele dia.

 

Bem, estava a maioria dos nossos amigos nesse parque, inclusive essa Aline que eu ficava atormentando Lucas falando que era a paixão dele. O que eu não sabia é que os dois de fato já se gostavam a bastante tempo.

 

Como já disse, o dia estava ótimo, com o céu claro e um forte calor na cidade. Passamos a tarde inteira nos divertindo, e foi em mais uma das idéias não lá muito boas de Jotapê, um garoto gordo que era muito engraçado e sempre estava junto da gente, que resolvemos entrar naquela mata. Nada de muito especial, afinal, você não acha mesmo que nós nunca tínhamos feito isso, não é mesmo?

 

É claro que havia limites, e nós nunca passávamos de uma casa, ou uma tentativa de, que estava toda destruída, e todos falavam que assim estava por causa de um raio que a tinha atingido. Quando se é criança tudo que é diferente gera uma série de boatos...

 

Ao chegarmos nessa casa resolvemos ficar brincando por lá, e assim ficamos por muito tempo. Até que um forte trovão anunciou uma chuva que estava por vir, o que era muito estranho já que raras vezes o dia estará tão bonito. E foi nesse momento que percebemos o sumiço do Lucas e da Aline. Não pense besteiras, éramos crianças apenas! Mas de qualquer forma foi mais ou menos ali que percebi que já existia alguma coisa entre os dois, e me senti meio besta de todas as vezes que tirei sarro de Lucas. Bem, o tempo foi passando e os dois não apareciam. O tempo havia fechado e aquele final de tarde já antecipava a noite. Estava ficando perigosamente tarde, por volta das 7 da noite. Saímos que nem loucos por todos os cantos berrando sem parar atrás dos dois. Foi quando a Aline apareceu. Desesperada e chorando.

 

- Aline, o que aconteceu? Aonde você tava? Cadê o Lucas? – as perguntas iam se acomulando.

 

- Vamo embora! Pelamor de Deus, vamo embora daqui!! – era só isso que ela falava.

 

Saímos de lá, e ela mal conseguia falar, mas aos poucos foi se acalmando e o que conseguimos entender foi que os dois tinham saído pra dar uma volta nos arredores daquela casa velha. Só que quando resolveram voltar, não achavam o caminho de volta, simplesmente a trilha que haviam seguido não estava mais onde eles se lembravam. Já bastante assustados começaram a correr pra lá e pra cá procurando pela trilha, e em certo momento não estavam mais juntos! Haviam um se perdido do outro. Bastante assustada, Aline gritou por Lucas e finalmente conseguiu avistar um vulto por entre as matas. Correu para lá, mas não tinha ninguém. Porém, quando olhou para o lado teve a certeza de ter visto uma criança ao longe, que acenava apara ela. E foi aí que ela começou a escutar uma espécie de canto, que vinha de algum lugar distante. Quando voltou para olhar pra criança viu que ela não estava mais lá. Só o que conseguia ver era a densa mata, que parecia revelar vultos por entre as árvores. Assustada, correu como nunca tinha feito antes, e finalmente avistou a casa destruída, e assim nos encontrou, para alívio parcial de todos nós.

 

Mas Lucas continuava desaparecido.

 

 Escrito por Felipe Duccini