Capítulo 3 – Uma Tarde Normal

 

Tinha decidido que naquele dia não faria nada de especial, não sairia que nem louco em busca de pessoas estranhas e nem passaria a madrugada em claro trabalhando. Apenas iria para o estúdio e ficaria lá até algo em torno das dez da noite, e voltaria pra casa pra relaxar um pouco. Era pra ser um dia perfeitamente normal...

 

Foi mais ou menos lá pras quatro da tarde que eu percebi que a normalidade não seria bem o padrão daquele dia, aliás, é bom que eu deixe claro que não seria o padrão em nenhum dos malditos dias que estavam por vir. Bem, aconteceu da seguinte maneira: eis que no começo da tarde me aparece um sujeito no estúdio querendo falar com Lucas, e teria que ser com Lucas apenas. Educadamente perguntei a ele sobre o que se referia, e ele, também educadamente me respondeu que quando encontrasse com Lucas, dissesse a ele que fosse ter com Cláudio, urgentemente.

 

Logo depois foi embora. Cerca de uma hora mais tarde aparece Lucas, ainda bastante agitado. Contei-lhe sobre Cláudio, e ele apenas disse a mim: “Venha comigo”. E assim fomos, no meu carro, para um destino até então desconhecido para mim. Enquanto eu dirigia, Lucas começou a falar coisas aparentemente sem sentido. Aparentemente.

 

- Me desculpe – disse ele – Me desculpe, meu grande amigo, por tê-lo trazido para esta cidade.

 

- Como? O que quer dizer? Não tem porque se desculpar. Esta cidade é ótima. O trabalho é bom, quer dizer, é pesado, mas é bom.

 

- Quem dera esta cidade fosse assim como você acha. Há coisas nela que você nem faz idéia. As pessoas aqui são perigosas. E ainda por cima existe essa... coisa, essa blasfêmia.

 

Naquele momento Lucas me parecia extremamente paranóico, louco mesmo. Mas ele era meu amigo. Tinha de ouvi-lo, mesmo que naquele momento achasse que era apenas exagero por parte dele. E assim, ele continuou:

 

- Felipe, você sempre foi meu melhor amigo, e mais do que nunca preciso que você me ouça, mas me prometa que não contará a mais ninguém sobre o que vou lhe falar.

 

- Claro, pode contar sempre comigo Lucas.

 

- Existem coisas que você precisa saber. Coisas sobre a população daqui. Não posso te contar muito. Apenas posso lhe dizer pra que não se envolva com nada desta cidade. Existe algo de muito bizarro aqui em Taiguará, bizarro e extremamente perigoso. Por favor, peço que compreenda o porquê de estar meio ausente no trabalho...

 

- De fato, era algo que estava me deixando curioso. Ontem quando você saiu apressado do estúdio, vi que havia uma garota no seu carro.

 

- Havia, havia sim, e sinceramente não sei se ter me envolvido com ela foi a coisa mais sensata que já fiz. Mas eu gosto muito dela de qualquer forma.

 

- Ora, qual o problema com ela?

 

- O “problema com ela” eu não posso te dizer. – em meio as suas palavras, Lucas ia me descrevendo um caminho a seguir – Só quero que saiba do seguinte: estou envolvido com algo desta cidade, algo que não dá pra ser explicado naturalmente, e este foi o motivo de eu ter vindo parar aqui. É por isso que te peço desculpas, não devia ter-lhe oferecido essa proposta de emprego nesta cidade. Peço que entenda que quando te chamei não estava a par da gravidade desta situação a qual estou envolvido. Estou pensando seriamente em fechar o estúdio.

 

- Só pode estar brincando! – falei, percebendo que a situação era séria.

 

- Infelizmente não, meu amigo. Vá embora, volte para São Paulo e nunca mais venha pra cá novamente. Você não faz idéia de como essa cidade é perigosa.

 

- Meu Deus do céu. Mas o que você quer dizer, caramba? Como assim perigosa? De que perigo está falando? Esta cidade é absolutamente calma. Calma até demais, droga. Às vezes é um pé no saco a falta do que fazer! Lucas, você como meu melhor amigo me deve no mínimo uma explicação melhor sobre isso tudo.

 

- Aqui, me deixe aqui. – falou ele apontando para uma rua meio que escondida no meio das árvores da beira da estrada. – o resto eu sigo a pé. E nem pense em me seguir, hein! E mais uma vez, desculpe por tudo.

 

E dessa maneira saiu ele do carro e seguiu seu caminho a pé, sempre olhando pra trás pra conferir se eu não estava seguindo ele. Olhei para esse trecho, para as formações montanhosas a que ele se direcionava. Olhei para as árvores e me lembrei daquela floresta dos fundos da casa daquela estranha garota, Natasha. Tinha me esquecido dela. A estranheza daquela situação era tamanha que já não sabia mais em que pensar.

 

Olhei novamente para a rua por entre as árvores. Mas Lucas não estava mais lá

 

 Escrito por Felipe Duccini